Startups do suicídio, Longlegs e as ruínas do renascimento
Como as redes sociais estão devastando a cabeça de crianças e adolescentes, uma resenha de Pesadelo Tropical, Nicolas Cage é o melhor ator do mundo e o diretor uruguaio que ressuscitou Alien
No meu artigo de hoje, publicado no Brasil de Fato, comento três livros que mostram como as plataformas das redes sociais, à revelia da boa vontade dos seus criadores, está afetando a democracia e a nossa saúde mental.
Os algoritmos não são neutros.
No texto, menciono os trabalhos pioneiros e paradigmáticos do cientista político Giuliano Da Empoli, do jornalista Max Fisher e do psicólogo social Jonathan Haidt.
Poderíamos questionar se há uma mudança no paradigma psiquiátrico, uma hipermedicalização, críticas muito importantes do ponto de vista epistemológico.
A normalidade é uma construção histórica.
Mas o aumento das taxas de suicídios é um fato material. Não é uma construção conceitual. Podemos questionar se a ascensão das redes é o único fator. Obviamente há outros elementos, mas os algoritmos parecem ser um dos determinantes mais importantes.
[do livro A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais" (2024), de Jonathan Haidt.
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Uma coisa que eu tento fazer com o Joaquim é trocar o conteúdo controlado por algoritmo por conteúdo orgânico. As telas são inevitáveis, em muitos momentos não dá para competir com elas, mas dá pra reduzir danos concretos, melhorar qualitativamente a experiência.
Trocar, por exemplo, o consumo de uma espiral infinita de shorts e reacts de youtube oferecidos pelo algoritmo por um filme eleito por escolha humana é uma boa solução. Claro que o streaming tem seu próprio algoritmo, mas já tento escolher o filme antes. O impacto aqui é quase zero. E não há publicidade. Algo melhor inclusive que a televisão aberta, com uma publicidade extremamente agressiva.
Outra estratégia é trocar os jogos gratuitos, cheios de anúncios de outros jogos, que levam a outros jogos, então de repente a criança está com 20 aplicativos instalados no tablet, por jogos pagos, como o Game Pass, relativamente livre de anúncio e que também tem a vantagem de serem jogados no controle. O movimento infinito e liso do touch é uma das armadilhas mais sutis das telas.
São medidas paliativas, para serem usadas no tempo com a tela.
Obviamente, oferecer atenção à criança e atividades longe das redes é imprescindível. Uma infância e adolescência longe das telas é o sonho utópico.
Mas quando elas estiverem por perto, é necessário ter uma estratégia de guerra, concreta, realista e com alvos estratégicos. Pelo visto, a questão é de vida ou morte.
Você sabia que as crianças de CEOS e funcionários do Vale do Silício são superprotegidos da tecnologia? Afinal, nenhum traficante gosta de ver os filhos usando as drogas que vende.
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Saiu uma ótima resenha sobre meu romance Pesadelo Tropical no LE MONDE Diplomatique Brasil, de setembro.
Uma leitura muito atenciosa e inteligente da Laura Redfern Navarro (@matryoshkabooks) que entendeu que a expansão da literatura, um tanto desobediente, para a fronteira da história e do documento é um jogo com a ambiguidade do rastro documental.
Exclusivo para assinantes ou na edição impressa.
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Ainda não consigo entender o que aconteceu com Nicolas Cage nos últimos anos. Só faz papeis estranhíssimos e muito bons. Comentei aqui tempos atrás sobre aquela coisa muito louca que é O homem dos sonhos. E também sobre aquele catador de trufas. Em Longlegs (Oz Perkins, 2024), um horror satânico com os melhores elementos de ficção policial, traz um Nicolas Cage tenebroso. Gosto de una poucos filmes envolvendo forças satânicas (em sentido literal, não metafórico; o que não fim das contas não faz diferença?). Longlegs talvez seja o melhor filme de terror do ano, ao lado de Alien: Romulus (Fede Alvarez, 2024) e Oddity (Damian Mc Carthy, 2024), embora esse último tenha alguns furos meio bobos no roteiro. Os três tem bonecos. O topos do medo de 2024.
Os internautas que me seguem pela redes sociais da internet, já sabem que escrevi também uma resenha de Alien: Romulus para o Brasil de Fato.
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Dia desses, liguei para o Joca e ele me disse que tinha inventado uma língua. Ele me enviou uma foto de um papel cheio de símbolos e marcas escrito a mão.
Como se chama a língua?, eu perguntei.
Ele apontou com o dedo no papel. Se chama união.
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Seguem abertas as inscrições para o segundo encontro do meu Laboratório de Ficção Contemporânea, que vai acontecer na última terça-feira de setembro, na Livraria Candeeiro, em Campinas. Vamos ler A estrada, de Cormac McCarthy. Que começa um monte de incêndios por todos os lados. Bem o clima desses dias.
O primeiro encontro foi ótimo.